terça-feira, dezembro 13, 2005,11:14 da manhã
Ele vem aí...
Olhou à sua volta e estava escuro que nem breu.
A única luminosidade que se vislumbrava na ponta do seu nariz e nos dedos gordos encostados à parede eram uns pequenos raios de luar que o escolheram para se pousarem nele suavemente.
Estava frio.
Naquela tarde de Dezembro a neve não parou de cair.
Olhava para baixo e nada via. O cintilar de algumas estrelas que bem conhecia, ondulava sobre a sua cabeça, como que a piscar-lhe o olho com ar de troça.
Pensava rezingão:
"Como é que me meti nisto? Porque raio não liguei aos panfletos dos ginásios que me deixaram no correio? Agora, de certeza que não estava a passar por este embaraço."
Uma gota de suor deslizou suavemente pelo rosto perdendo-se na sua farta barba.
De seguida outra e outra ainda.
Tentou mais uma vez, fincando os pés fortemente contra a parede e empurrando com as costas, tentando esgueirar-se da armadilha onde se encontrava...mas nada... nem progrediu um centimetro só que fosse.
Estava capaz de matar alguém que lhe dissesse que o tamanho não importava. Ai não, que não importa.
Faz toda a diferença.
O que lhe valia é que os pés estavam estranhamente mais quentes agora. O cheiro leve de borracha queimada não augurava nada de bom.
Lançou o olhar para cima e viu a condensação de respiração que se soltava do nariz do seu companheiro inseparavel de aventura, e murmurou:
" Rudolfo!! Rudolfo! Vê se fazes qualquer coisa de útil, em vez de estares aí com esse ar de troça!"
O Rudolfo despareceu do seu campo de visão.
Praguejou em surdina. O tempo estava a correr e ele não estava em condições de completar a missão que lhe fora confiada.
Os créditos que acumulou ao longo dos anos estavam a esvair-se.
O dia nasceu...
Ouviu vozes que vinham de baixo.
Gritos de alegria, o som de papel a ser rasgado, as gargalhadas de crianças , até que ouviu uma vozinha esbafurida:
Pai... Mãe... o que fazem estas botas penduradas no meio da chaminé??
Fora descoberto... Estava tudo estragado!!!
Arruinado!!!
Sentiu um puxão forte nos pés e sentiu-se cair desamparado.
De repente...
Bato com a cabeça na mesa de cabeceira e ... acordo!!!!
Desato a rir que nem um maluco...
Afinal o Pai Natal existe!!!!
 
Aceso por Renato Ribeiro
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