quarta-feira, novembro 23, 2005,1:49 da tarde
Tudo em cima?
Sexta-feira, Abril 30, 2004


Como o tempo é escasso, só hoje posso voltar a partilhar a minha viagem cibernética com os que pousarem por descuido os olhos neste blogue. Tive uma semana de arraso, mas continuei atento aos tais pequenos pormenores que fazem parte do nosso quotidiano, que marcam presença insistente nas nossas conversas e acções, mas vá lá saber-se porquê não lhe passamos grande atenção.
Talvez o avô Sigemundo ( Sigmund em alemão ou austríaco ou lá o que é) possa explicar isso. Estava a falar com um amigo meu, quando de repente ele olha para o relógio e exclama "Xiii... Vou pôr-me na alheta. Tchau".
Fiquei ali sozinho quedo e mudo e a pensar com o meu ziper das calças ( tenho algumas com botões mas não são lá muito práticas).
Ele vai por-se na Alheta??? Mas quem diabo é a Alheta??
Pois é. De repente ( e lá está o avô Sigemundo a fazer das suas no nosso subconsciente) o que me ocorreu é que o meu amigo ia dar uma queca.Tout court. Desse ponto de vista, era muito natural que interrompesse a nossa conversa do modo como o fez, porque uma queca é sempre preferível a uma conversa que, na altura versava a filosofia que estava por trás da opção do Professor Doutor Oliveira Ascensão ter optado por Direito e não por Matemática na juventude dos seus 17 anos.
Mas fiquei intrigado. Quem será esta Alheta? O mais incauto entenderia esta expressão como a necesidade urgente de saltar dali para fora o mais rápido possível, mas um tipo atento como eu, entenderia a mensagem subliminar que estava adjacente a esta tão corriqueira expressão. E depois de um exercício mental rápido ( porque eu não tenho tempo para coisas demoradas), cheguei à conclusão que era uma excelente expressão, esta da Alheta.
Porque senão vejamos:
Substituir a palavra alheta por um nome feminino qualquer, denuncia claramente as nossas intenções, para além de ser ordinário ( viu Madame Paula Bobone, eu também conheço a Ordem do trato social, V. Exa. é que nem lhe passa pela cabeça o que isso é), como " Vou pôr-me na Maria" ou " Vou pôr-me na Joaquina" ou " Vou pôr-me na Felisberta" ( bem este da Felisberta não é lá muito feliz). Suponhamos que ela se chama Berta, será feliz se quem se lhe puser em cima a satisfaça, o que nos levaria para o campo das probabilidades e da estatística, mas não temos tempo para isso,ou melhor, EU não tenho tempo para isso.
Se o meu amigo que se foi pôr na Alheta não tiver cuidado, continuei eu a divagar rapidamente, daqui a uns meses ainda tem uma surpresa com dois bracinhos, duas perninhas, uma cabecinha, dois olhinhos, duas orelhinhas, etc. ( o que é pequenino convém que se descreva com estas mariquices dos diminutivos).
E aqui é que a porca torce o rabo ( cá está outra expressão interessante, porque tem uma porca e fala em rabo).
Divaguei rapidamente pela experiência da paternidade, o que leva incondicionalmente às questões de puericultura e à educação ministrada aos/às petizes e fui aportar numa situação muito curiosa. Este mundo dos adultos é muito pernicioso, e cheguei à conclusão que a publicidade é de facto a grande inimiga da fluidez num mercado de concorrência perfeita ( este é um aparte de Economia). Vejam lá se eu não tenho razão. Acompanhem-me neste racíocinio:
As canções infantis são o maior antro de publicidade induzida que temos na nossa sociedade. Tomemos dois ou três exemplos." A saia da Carolina tem um lagarto pintado" . Pumba!!!! Publicidade à Lacoste!
" Ti Anica de Loulé, o que levaria ela na caixinha do rapé?" Se não sabem o que vai na caixa do rapé é porque não é rapé. O que será então? Descubram, porque vos faz bem exercitarem os neurónios!!!
Esta então, é aquela que podemos apelidar da campanha mais extraordinária e futurista da publicidade. Estou a falar, claro está, da célebre música " Eu vi um sapo". Já se preparava na mentes das crianças que a consumissem assim que tivessem idade para conhecer as novas tecnologias, e começassem a exigir aos pais a ligação à Net... Sapo!!! Tá tudo a assapar!!
E o que dizer da canção difundida aos sete cantos do rectângulo pelo actual Reitor da Universidade de Lisboa??? " Come a papa Joana come a papa". A que papa se referiria o douto cantor??? À Cerelac?? Ao Nestum?? Não temos uma resposta plausivel para esta questão!!!Agora um aparte, se fosse um herege ( cristão baptizado que renega a ortodoxia da Igreja Católica Apostólica Romana) homossexual (lá por estarmos no dominio da publicidade não é nenhum detergente para lavar o sexo) escreveria certamente uma canção com o titulo " Come o Papa João come o Papa".
Bem, como sempre , lá tenho o telemóvel a tinir, e como não posso perder tempo, vou ter que me pôr também... na Alheta!!!
Bom fecho de semana!
 
Aceso por Renato Ribeiro
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